Célia Froufe
A indústria terminou o primeiro semestre em crise e o período já foi considerado perdido para o setor. Após um suspiro de alta em maio, a produção industrial voltou a cair em junho, liderada pelo setor automotivo. Mesmo assim, os estoques permanecem elevados, revelando que a estratégia de crescimento da atividade por meio de estímulos ao consumo dá sinais de esgotamento.
Todos os indicadores de atividade divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram piora. O índice geral de produção passou de 51,6 pontos em maio para 45,5 pontos no mês passado, em uma escala de 0 a 100 pontos em que números abaixo de 50 indicam contração da atividade.
Além disso e do nível dos estoques em 51,5 pontos, também apresentaram piora em junho o uso da capacidade instalada, que atualmente está em 72%, e o índice de emprego, que voltou a cair e agora está em 47,2 pontos.
“A tendência de deterioração se mantém e os dados são coerentes: não há nenhum indicador mostrando melhora”, pontuou o gerente executivo de pesquisa da entidade, Renato Fonseca. “Claramente, a indústria já está em crise”, reforçou o executivo da entidade.
Autos. O setor de veículos foi o que tomou o maior tombo de produção no período, passando de 44,7 pontos para 36,8 pontos, segundo os indicadores divulgados pela CNI. “Apesar do boom de vendas visto com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), os estoques não estão diminuindo”, considerou Fonseca.
O movimento não é específico desse ramo de atividade. Mesmo com a redução generalizada da produção, apenas um terço dos 30 setores avaliados pela CNI conseguiu reduzir o excesso de estoques no último trimestre. No geral, não só a evolução do índice que mede a quantidade de pátios e prateleiras lotadas como também o que calcula o estoque efetivo em relação ao planejado pelos industriais estão acima do desejável.
Decepção
Na avaliação da CNI, apesar do aumento dos gastos públicos, da queda dos juros e da entrada em vigor de medidas do Plano Brasil Maior – a política industrial e de comércio exterior do governo Dilma Rousseff -, não foi constatada a “esperada reação” da atividade nos seis primeiros meses do ano.
Com este quadro, o temor dos empresários com a queda da demanda e o avanço da inadimplência do setor aumentou substancialmente, principalmente para os executivos de companhias de menor porte, que têm menos acesso ao crédito e não podem “se dar ao luxo” de manter cheios seus armazéns.
“Mesmo com a adoção das recentes medidas de estímulo, a demanda ganhou importância no último trimestre”, disse Fonseca, citando a sondagem industrial feita com 1.957 empresas de todo o País entre os dias 2 e 13 de julho.
Já o câmbio, que sempre foi sinônimo de dor de cabeça para os executivos nos últimos anos, saiu do radar das preocupações dos empresários, por causa da alta da cotação do dólar nos últimos meses.